segunda-feira, 28 de abril de 2008

É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Pablo Neruda

Almas Enlaçadas no Inverno

Queria, hoje, dormir
Com as minhas pernas enlaçadas nas suas...
Roçando meu pé direito no seu esquerdo...
Meus braços em torno da sua cintura
E meu rosto perdido nos seus cabelos...

Dividindo o mesmo travesseiro...
Seus suspiros misturados aos meus...
Seu coração ensaiando com o meu...
Prá acertar os passos do nosso viver...

Sonhar que tudo isto é verdade...
Burlar a realidade e por lá ficar...
Ou então, trazê-lo (o sonho) para cá, meu quarto...
E, de fato, acordar com você ao meu lado...

De noite, balbuciar palavras desconexas...
E você, meio sonolenta, me acariciar...
Como se eu uma criança fosse...
Eu, acordado, fingir que dormindo nada percebia...
Prá aproveitar ao máximo, esse carinho...

Gideon M. Gonçalve

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Ter ou não ter namorado, eis a questão



Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil.

Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.

Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.

Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.

Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.

Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.

Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.



Atribuído a Carlos Drummond de Andrade,
mas é de Artur da Távola.
Extraído do site:
http://www.secrel.com.br/jpoesia/autoria.html

segunda-feira, 14 de abril de 2008

FRAGMENTOS DE UM SHOW MARAVILHOSO

Novamente
Ney Matogrosso
Composição: Fred Martins, Alexandre Lemos

Me disse vai embora, eu não fui
Você não dá valor ao que possui
Enquanto sofre, o coração intui
Que ao mesmo tempo que machuca o tempo
O tempo flui
E assim o sangue corre em cada veia
O vento brinca com os grãos de areia
Poetas cortejando a branca luz
E ao mesmo tempo que magoa o tempo me passeia

Quem sabe o que se dá em mim?
Quem sabe o que será de nós?
O tempo que antecipa o fim
Também desata os nós
Quem sabe soletrar adeus
Sem lágrimas, nenhuma dor
Os pássaros atrás do sol
As dunas de poeira
O céu de anil no pólo sul
A dinamite no paiol
Não há limite no anormal
É que nem sempre o amor
É tão azul

A música preenche sua falta
Motivo dessa solidão sem fim
Se alinham pontos negros de nós dois
E arriscam uma fuga contra o tempo
O tempo salta

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Para você

Poderia esta noite dizer muitas coisas, mas nada seria suficiente para agradecer
o que você tem feito para mim.
Só tenho motivos para sorrir, e agradecer.
Agradecer à Deus por ter permitido este tempo ao teu lado.
Agradecer à você, por ter feito desta minha estada ao teu lado tão harmoniosa e agradável.
Agradecer o carinho e atenção dispensada por todos, inclusive as minhas "amadinhas" elas são
muito especiais.
Sentirei saudades, muita saudade....
Das coisas ruins temos lembranças...
Das coisas boas temos saudades...
Você é a parte boa da minha vida,
obrigada por você existir e fazer parte dela.

domingo, 6 de abril de 2008

QUANDO OS AMANTES DORMEM


Quando as pessoas se amam e querem se amar, selam um pacto; dormir juntas.
E quando se fala "dormir juntos" o sentido é duplo: significa primeiro amar acordado em plena vigília da carne, mas, depois, na mansidão do pós-gozo, deixar os corpos lado a lado, à deriva, dormindo, talvez.
Na verdade, os amantes, quando são amantes mesmo, mesmo enquanto dormem se amam.
Agora ouço esses versos de Aragón cantados por Serat: "Durante o tempo que você quiser nós dormiremos juntos". E penso: É um projeto de vida, dormir juntos, continuamente.
A mesma ambigüidade: dormir/amar juntos, dormir/acordar juntos, ou então, dormir/morrer de amor juntos. Deve ser por causa disto que os franceses chamam o orgasmo de "pequena morte".
Deve ser por isto que os amantes julgam poder continuar amando mesmo através da morte, como Inês de Castro em Pedro, que foram sepultados um diante do outro, para que no dia do reencontro um seja o primeiro que o outro veja.
Amor: Um projeto de vida, um projeto de morte.
Se uma noite dessas o vento da insônia soprar em suas frestas, repare no corpo dormindo despojado do seu lado.
Ver o outro dormir é negócio de muita responsabilidade. Mais que ver as águas de um rio represado gerando uma usina de sonhos, é ver uma semente na noite pedindo um guardião.
Pode ser banal, mas é isto: Amar ... Ser o guardião do sonho alheio.
Os surrealistas diziam: "O poeta enquanto dorme trabalha". Pois os amantes enquanto dormem, se amam. Se amam inconscientemente, quando seus desejos enlaçam raízes e seivas. O pé de um toca o pé do outro, a mão espalmada corre sobre o lençol e toca o corpo alheio e, dormindo, se abraçam animados.
Quando isso ocorre, pode ter vários significados. Talvez um tenha lançado um apelo silencioso ao outro: "Ajude-me a atravessar esse sonho", ou: "Venha, sonhe esse sonho comigo, é bonito demais". E o outro, às vezes, sem se mexer, parte em seu socorro. É que certos sonhos, sobretudo os de quem ama, não cabem num só corpo. Transbordam os poros da noite e pedem cumplicidade. E se há um pesadelo, aí um se agarra ao tronco do outro na crispação do instante, e o corpo do parceiro é bóia na escuridão.
Por isto, no ritual do casamento, quando o sacerdote indaga se os que se amam sabem que terão que se socorrer na saúde e na doença, na opulência e na miséria etc... Deveria se inserir um tópico a mais e advertir: ... amar é ser cúmplice do sonho alheio. Passar a metade da vida dormindo ao lado do outro.
Há pessoas que vivem 25 anos - bodas de prata, 50 anos - bodas de ouro, 75 anos - bodas de diamante - ao lado do outro, e não sabem com que o outro sonha. E há quem passe uma tarde, uma noite ou uma temporada ao lado de um corpo e sabe seus sonhos para sempre.
Engana-se quem escuta o silêncio no quarto dos que amam. Estranhos rumores percorrem o sonho alheio. Não é o rugir do tigre pelas brenhas. Não é o bater das ondas na enseada. Nem os pássaros perfurando a madrugada. São os sonhos dos amantes em plena elaboração.
E se numa noite dessas o vento da insônia de novo soprar em suas frestas, olhe ela janela os muitos apartamentos onde pulsam dormindo os amorosos.
Quando se compra um apartamento novo, nas alturas, alguns compram lunetas e ficam vasculhando a vida alheia. Mas para ouvir o ruído dos sonhos basta abrir os ouvidos na escuridão. Os sonhos pulsam na madrugada.
Era uma vez um chinês que toda vez que sonhava com sua amada acordava perfumado. Deve ser por isso que, ainda hoje, o quarto dos amantes amanhece com um perfume de almíscar, lavanda e alfazema. E é comum achar troféus dos sonhos ao pé da cama de quem ama. Quando se abre a pálpebra do dia, aí pode-se ver um unicórnio de ouro e uma coroa de rubis. À noite os sonhos dos amantes se cristalizam e se liquefazem em beijos e lágrimas.
Quem ama diz boa-noite como quem abre/fecha a porta de um jardim. Não apenas como quem viaja, mas como quem vai para a colheita.
Quando se ama, acontece de um habitar o sonho do outro, e fecundá-lo.

Affonso Romano de Sant'Anna

POEMA DA AMANTE

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.


Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita do tempo
Até a região onde os silêncios moram.


Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.


Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
Em tudo que ainda estás ausente.


Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.


Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.


Adalgisa Néri

AMO ESTA MULHER








Amo esta mulher
Que atormenta os meus mais secretos desejos
Amo esta mulher
Que ilumina o meu dia sem ao menos imaginar
que o seu olhar precede um encantamento
Amo esta mulher
Que a cada sorriso enche minha alma de musica e poesia
Amo esta mulher
Que a cada toque desperta em mim
o que adormecido sempre esteve
Amo esta mulher
Que mesmo na distância me faz imaginar tudo para se ter e estar
Amo esta mulher
Que me acompanha deste os tempos
em que eu ainda não sabia o que era amar
Amo esta mulher
que em meus sonhos se transporta em meu corpo
e aquece minhas noites vazias
Amo esta mulher
Que faz reboliço em minha vida
e me faz rir de coisas que nem imaginava ser capaz
Amo esta mulher
Que me provoca com palavras
e depois me faz esquecer tudo com seus beijos e carinhos
Amo esta mulher
Que tem poder sobre meus atos e me responde com gestos
que me fazem calar diante das incertezas
Amo esta mulher
Na única certeza de minha vida...
de que sempre vou amar esta mulher...
sempre vou amar você.






Cássia Leite

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Carinho da igual


Eu quero mais é um carinho da igual.
Beber dessa doçura ímpar feminina-letal.
Trocar tocando seios que se bicam, magnéticos.
Saborear teus cheiros de menina, elétricos.

Eu quero mais é essa doçura sem igual.
Derreter nesses carinhos não homem-sexuais.
Beijar trocando línguas que se roçam, nirvanescas.
Acariciar tua púbis de menina – e sonhar, quixotesca.

Eu quero mais é esse prazer indizível que é teu prazer também.
Esse trocar de iguais tão diferentes de tudo – e tão bom.
Essa magia incandescente que só nasce de pólos-poros-peles iguais,
Que se tocam-retocam-retrocam criando amor.

Eu quero mais é beber dessa magia de nós duas,
Nuas e eternas,
Ternamente nuas,
Virando uma.
Criando mel-de-vida.
Fabricando amor.



(Notívaga Noturna)

Ausência

No silêncio da noite...
pela vidraça do quarto...
vejo sempre a mesma
estrela brilhando
no espaço!

Será que ela me
vê chorando...
será que pensa ser
de dor o meu pranto...
ou até entende que
é de saudade...
as lágrimas que derramo?
Saudade é dor
da ausência...
da ausência física...
da ausência química
que nos
envolve e alucina!

Ausência do calor
dos nossos corpos
se enlaçando...
ausência do
olhar que pede...
e...promete...
só olhando!

Ausência da
esperança...
da ternura...
do riso...
da alegria!

Ausência da paz...
que nos faz de
bem com a vida...
com o mundo...
com o amor!

Ausência de palavras
jogadas fora...
ou lembradas
para sempre!
Saudade é dor
de ausência...
que só
acalma e passa...
com o poder
da tua presença!

Iracema Zanetti

CORPO ADENTRO

Teu corpo é canoa
em que desço
vida abaixo
morte acima
procurando o naufrágio
me entregando à deriva.

Teu corpo é casulo
de infinitas sedas
onde fio
me afio e enfio
invasor recebido
com licores.

Teu corpo é pele exata para o meu
pena de garça
brilho de romã
aurora boreal
do longo inverno


Marina Colasanti